Para além de ser inestético, o estrabismo pode levar ao chamado "olho preguiçoso" , uma situação reversível se for tratada precocemente.
O estrabismo é a ausência de alinhamento entre os olhos, que devem estar orientados para o mesmo ponto de fixação, em todas as posições e movimentos.
Em condições normais, os músculos que fazem mover os olhos trabalham de forma coordenada, permitindo uma visão binocular e a noção de profundidade, percepção tridimensional ou estereopsia, uma vez que o cérebro funde as imagens dos dois olhos e as interpreta como uma só. Se os olhos não se dirigem exactamente para o mesmo ponto de fixação, o cérebro percepciona duas imagens do mesmo objecto que não consegue fundir, em que o indivíduo tem visão dupla, chamada: diplopia. O estrabismo, para além de impedir a percepção tridimensional, pode levar a que o olho desviado perca, ou não desenvolva, função visual. Isto porque o cérebro poderá optar por eliminar a mensagem do olho desviado para não estar em constante duplicidade de estímulos.
Esta situação pode levar à ambliopia , mais conhecido como «olho preguiçoso», que se caracteriza pela perda de acuidade visual, não por razões orgânicas, mas por falta de utilização. O estrabismo aparece quase sempre em idade infantil, mais frequentemente nos primeiros anos, e pode estar presente à nascença. Quando acontece na idade adulta, está associado a outras patologias, nomeadamente, do foro neurológico. O desenvolvimento da visão acontece nos primeiros meses de vida e depende da qualidade do estímulo visual. Por isso mesmo, a criança deve ser examinada desde a nascença. Quando há suspeita de estrabismo, impõe-se fazer um exame optométrico para excluir a presença de lesões orgânicas, prescrever a correcção óptica necessária, detectar e tratar precocemente a ambliopia e se necessário encaminhar para Oftalmologia para ser avaliada a possibilidade de correcção cirúrgica.
É importante sublinhar que a análise de um estrabismo pode ser feita em qualquer idade, aliás, o tratamento terá mais sucesso quanto mais precoce for o seu início. Do exame Optométrico faz parte a avaliação da acuidade visual. Dependendo da idade, os testes à acuidade visual são diferentes.
Nos primeiros tempos de vida, cabe ao especialista interpretar os resultados de testes específicos, sem a participação verbal da criança. Quando já fala, existem outros testes calibrados que solicitam à criança a interpretação do que vê e permitem a avaliação de níveis de acuidade visual.
A partir dos 3 ou 4 anos utiliza-se, por exemplo, o teste dos «Es», tendo as crianças de dizer, ou apontar, para onde estão voltadas as «perninhas» daquela letra, apresentada em diferentes posições e tamanhos gradualmente mais pequenos. O ponto em que deixam de conseguir distinguir a posição das «perninhas» corresponde a uma determinada acuidade visual.
O teste mais vulgar para detectar um estrabismo é o cover test , em que se chama a atenção da criança para um objecto e se vê se os olhos estão a olhar na direcção do mesmo. Tapando alternadamente um dos olhos, observa-se se algum deles se desvia para retomar fixação. O exemplo de um teste para aferir a noção de profundidade é o teste de esteroacuidade da « Mosca de Titmus », em que a criança tem uns óculos especiais e um cartão com a imagem de uma mosca de asas abertas. Perante a indicação de agarrar as asas da mosca, se tiver visão tridimensional, a criança vai tentar apanhar as asas da mosca acima do plano do cartão, caso contrário, vai apanhar a asa da mosca no plano do cartão.
Do exame optométrico faz parte a oftalmoscopia (sem dilatação da pupila), o que permite a observação do olho no seu interior e a avaliação do seu estado refractivo. Assim, pode excluir-se lesão orgânica intra-ocular e prescrever a graduação necessária para que o olho veja com nitidez e sem esforço.
Quando o estrabismo é puramente acomodativo, apenas dependente do esforço de focagem, o tratamento do desvio passa pela correcção óptica. Continua a ser importantíssimo tratar a parte sensorial, para evitar a ambliopia, e depois fazer a correcção cirúrgica, se necessário. O tratamento cirúrgico consiste na mudança da posição, enfraquecendo ou reforçando determinados músculos para permitir o equilíbrio entre os dois olhos. Em alguns casos, a cirurgia pode ser substituída pela aplicação de Botox (toxina botulínica) num músculo para o enfraquecer, causando uma paralisia desse músculo.
Para mais informações, contacte o seu Optometrista.